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Alcolumbre quer votar ainda este mês projeto que aumenta número de deputados

A pergunta que fica é direta — e incômoda: mais deputados significam mais democracia ou apenas mais gastos?

Alcolumbre quer votar ainda este mês projeto que aumenta número de deputados
Alcolumbre quer votar ainda este mês projeto que aumenta número de deputados (Foto: Reprodução)

O debate sobre a representatividade no Congresso Nacional voltou a ferver. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, anunciou que pretende colocar em votação, ainda neste mês, o controverso Projeto de Lei Complementar 177/2023, que prevê o aumento do número de deputados federais na Câmara. A proposta, que já passou pela Câmara dos Deputados, agora está nas mãos dos senadores — e deve ser votada até o fim de junho, conforme determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

A medida reacende uma polarização intensa: de um lado, parlamentares e juristas defendem a atualização da composição da Câmara com base nos dados demográficos mais recentes — para garantir, segundo eles, uma representação mais justa entre os estados. De outro, setores da sociedade civil e especialistas em finanças públicas alertam para os altos custos da ampliação, especialmente em um cenário de crise fiscal e cortes em áreas essenciais.

A última vez que o número de deputados foi alterado foi em 1993. Três décadas depois, a população brasileira cresceu e mudou, mas a configuração da Câmara permaneceu engessada — gerando distorções graves na proporcionalidade entre eleitores e seus representantes. O PLP 177/2023 tenta corrigir esse desequilíbrio.

O argumento central é direto: estados como São Paulo, Minas Gerais e Bahia estariam sub-representados, enquanto regiões menos populosas mantêm cadeiras desproporcionais. A proposta se baseia nos dados mais recentes do IBGE para redistribuir as vagas, buscando cumprir o princípio democrático do “um cidadão, um voto”.


Mas o caminho da proposta esbarra em dilemas delicados: custos extras para os cofres públicos, impactos eleitorais em 2026, e até riscos para alianças políticas consolidadas. Tudo isso em um momento sensível, com desgaste na imagem do Congresso e desconfiança da população. Para muitos, discutir o aumento de parlamentares em meio à crise soa como provocação.

Apesar disso, Alcolumbre não esconde a pressa: “Minha vontade é deliberar até antes do dia 30 de junho, prazo fixado pela decisão do STF”, afirmou, sinalizando que o projeto será prioridade no Senado. Embora o texto seja apresentado como uma medida técnica, os desdobramentos são claramente políticos — e potencialmente explosivos.


O Que Está em Jogo?

O PLP 177/2023 prevê o aumento do número de deputados federais de 513 para 531 já nas eleições de 2026. A mudança considera o crescimento populacional e a necessidade de alinhar o número de cadeiras aos dados do último censo do IBGE, respeitando os limites constitucionais: mínimo de 8 e máximo de 70 deputados por estado.


A proposta atende a um pedido do STF, que considerou a atual distribuição inconstitucional por ferir o princípio da representatividade. A Corte estabeleceu o prazo de 30 de junho de 2025 para que o Congresso corrigisse o cenário.

A Câmara aprovou o projeto em 6 de maio por 270 votos a favor e 207 contra, após debates acalorados. Os opositores alertaram para o impacto financeiro e político da medida, em um país com desafios econômicos sérios e crescente descrença nas instituições.

De acordo com a Direção-Geral da Câmara, cada novo deputado custaria R$ 3,59 milhões por ano — o que elevaria o gasto total em cerca de R$ 64,6 milhões anuais. Mesmo assim, Alcolumbre garante que não haverá aumento de despesas: “o orçamento já comporta a mudança”. Para os críticos, a promessa soa frágil, especialmente num contexto em que cada centavo dos cofres públicos é alvo de escrutínio.


Repercussões e Riscos

A aprovação da proposta pode redefinir o equilíbrio de poder no Congresso. Partidos com base em estados populosos tendem a ganhar espaço, recursos do fundo partidário, tempo de TV — e mais influência nas articulações nacionais, inclusive na disputa presidencial de 2026.


Internamente, o aumento de cadeiras altera a composição das comissões, o tempo de fala dos parlamentares e a dinâmica das votações. Externamente, pode fortalecer a imagem de um Legislativo já visto como caro, ineficiente e desconectado da realidade do cidadão comum.

A sociedade civil já começa a reagir. Campanhas online denunciam a medida como uma “autoconcessão de privilégios” e criticam o momento político escolhido para sua tramitação. Enquanto isso, lideranças partidárias apostam que a pressão do STF e o respaldo técnico garantirão a aprovação no Senado.


O Que Vem Pela Frente?

A votação do PLP 177/2023 é mais do que uma pauta legislativa: é um marco estratégico, com repercussões profundas na representatividade nacional, na estrutura política e nos cofres públicos. Para os defensores, é uma correção histórica necessária; para os críticos, uma medida inoportuna e onerosa.


A pergunta que fica é direta — e incômoda: mais deputados significam mais democracia ou apenas mais gastos?

A resposta, como sempre, dependerá do voto, da fiscalização da sociedade e dos rumos políticos do país nos próximos anos.



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