Após descobrir que celulares “sumiram”, Moraes dá cinco dias à PF
O episódio aumenta o clima de tensão entre os órgãos responsáveis pela apuração e os defensores dos réus. Advogados dos militares já avaliam entrar com ações formais caso as explicações não sejam convincentes, alegando possível violação de garantias legais.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta sexta-feira (7) que a Polícia Federal (PF) preste esclarecimentos, em até cinco dias úteis, sobre o enigmático sumiço de equipamentos eletrônicos pertencentes a dois oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Os dispositivos haviam sido apreendidos em uma operação autorizada pelo próprio Moraes, dentro da investigação que apura a suposta omissão das forças de segurança locais durante os ataques de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.
A denúncia partiu do tenente Rafael Martins e do coronel Paulo José, integrantes da alta cúpula da PMDF, que relataram o extravio de três aparelhos — dois celulares (incluindo um iPhone 7) e um notebook — que estariam sob custódia da PF ou da Procuradoria-Geral da República (PGR). Até o momento, nenhum dos órgãos confirmou o paradeiro dos itens. O caso gerou forte reação do STF, que vê no desaparecimento um risco à integridade do processo.
“Determino que a Polícia Federal, no prazo de cinco dias úteis, apresente manifestação quanto ao paradeiro dos dispositivos eletrônicos mencionados e se houve registro de envio à Procuradoria-Geral da República, assim como solicito manifestação da própria PGR sobre o recebimento ou não dos referidos bens”, ordenou Moraes no despacho.
Entre os itens desaparecidos estão:
Um celular Xiaomi do coronel Paulo José, supostamente enviado à PGR, mas nunca localizado;
Um notebook do tenente Rafael Martins;
Um iPhone 7, também de Martins, igualmente listado como transferido à PGR, mas sem registro oficial de recebimento ou devolução.
A preocupação vai além do extravio em si: os dispositivos continham informações pessoais e possivelmente dados essenciais à defesa dos acusados — além de eventuais provas relevantes ao próprio processo. O desaparecimento levanta suspeitas sobre falhas graves no manuseio de evidências judiciais.
A investigação, que caminha para a fase final, já teve prisões preventivas decretadas no ano passado. Embora os oficiais estejam soltos, cumprem medidas cautelares impostas pelo STF.
O episódio aumenta o clima de tensão entre os órgãos responsáveis pela apuração e os defensores dos réus. Advogados dos militares já avaliam entrar com ações formais caso as explicações não sejam convincentes, alegando possível violação de garantias legais.
Especialistas alertam para a gravidade institucional do caso. “Mesmo que não haja dolo, o desaparecimento de bens sob custódia do Estado representa uma grave falha institucional e precisa ser esclarecido com máxima transparência”, afirmou um jurista ouvido pela reportagem.
Enquanto o STF reforça o discurso de rigor e imparcialidade, a pergunta que ecoa nos corredores do poder é inquietante: onde estão os celulares e o notebook que deveriam estar sob custódia da Justiça? A resposta — ou mais dúvidas — pode surgir nos próximos cinco dias.
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