“Eu não vi minuta, ministro”, diz Garnier em depoimento no STF
Questionado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, o ex-comandante da Marinha, que é o único dos chefes das Forças Armadas durante o governo Jair Bolsonaro a ter sido acusado da suposta trama golpista, disse também não saber por que as acusações lhe foram atribuídas.

O almirante Almir Garnier dos Santos (foto) negou nesta terça-feira, 10, em depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF) as acusações que a Procuradoria Geral da República (PGR) lhe imputou, de tentativa de golpe de Estado, entre outras.
Questionado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, o ex-comandante da Marinha, que é o único dos chefes das Forças Armadas durante o governo Jair Bolsonaro a ter sido acusado da suposta trama golpista, disse também não saber por que as acusações lhe foram atribuídas.
No início do depoimento, Garnier pediu a palavra para dizer que permaneceu calado durante seu depoimento durante as investigações porque “naquele momento não haviam sido dados a conhecer as acusações contra mim, apenas eu sabia pelo jornal”.
“Não se sabia muito bem para onde ia aquele movimento”
Questionado sobre reunião realizada em 7 de dezembro de 2022, Garnier disse que foi convidado por Bolsonaro, por intermédio do ministro da Defesa.
Segundo ele, havia vários assuntos em pauta naquele dia, mas “o principal era a preocupação que o presidente tinha, e também era nossa, das inúmeras pessoas que estavam, digamos assim, insatisfeitas e se posicionavam no Brasil todo, normalmente em frente aos quartéis do Exército, e aquilo poderia alguma dificuldade para a segurança pública; não se sabia muito bem para onde ia aquele movimento”.
Garnier acrescentou que “houve uma apresentação de alguns tópicos de considerações que poderiam levar a, talvez, não foi decidido isso naquele dia, a decretação de uma GLO [Garantia da Lei e da Ordem] ou de necessidades adicionais, principalmente visando a segurança pública”.
Minuta golpista
Questionado sobre a famigerada minuta golpista, o almirante disse o seguinte:
“Eu não vi minuta, ministro. Eu vi uma apresentação na tela de um computador. Havia um telão, onde algumas informações eram apresentadas na tela. Eu não recebi… Quando o senhor fala minuta, eu penso em papel, em um documento que lhe é entregue. Eu não recebi esse tipo de documento.”
Segundo Garnier, o conteúdo apresentado na tela “dizia respeito a pressão popular nas ruas, considerando que há insatisfação, que há pessoas na porta dos quartéis, havia alguma coisa talvez já de caminhoneiros, e havia também algumas considerações acerca, talvez, do processo eleitoral, alguma coisa ligada à forma como algumas questões eleitorais aconteceram”.
Ele disse não lembrar dos detalhes dessas questões eleitorais, “porque, como disse para o senhor, algo apresentado numa tela de computador, onde não se aprofundou em nada, mas era parte talvez de uma análise do cenário político e social do Brasil naquele momento”.
Novas eleições?
Questionado se foi abordada a possibilidade de novas eleições naquela reunião, Garnier respondeu o seguinte:
“Não me vem à cabeça a questão de necessidade de novas eleições terem sido discutidas ali, naquele dia. Não houve isso. A busca, a ideia de que poderia haver fraudes ou alguma condução das eleições estava dividida em duas vertentes: uma com a equipe de transparência, que trabalhava na transparência eleitoral, tinha um grupo das Forças Armadas que trabalha com o TSE, que estava analisando a questão que poderia levar a esse entendimento de que se identificou ou não alguma fraude. E, ao mesmo tempo, o presidente também nos colocava a par das questões legais, onde ele discutia, através, creio eu, ou juntamente com o partido dele, o Partido Liberal, questões de condução da Justiça Eleitoral. Ele nos colocava a par disso.”
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