“Ele não fugiu. Foi a família quem viajou” — Defesa reage após pedido de prisão de Mauro Cid
A tentativa de prisão, considerada desproporcional por juristas, levantou críticas sobre uma possível atuação política da PGR em processos sensíveis.

Brasília foi palco, em 12 de junho de 2025, de mais um episódio polêmico envolvendo figuras ligadas ao governo Bolsonaro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a prisão do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, após identificar que sua esposa, filha e pais embarcaram rumo aos Estados Unidos no fim de maio.
A movimentação familiar levantou suspeitas na Polícia Federal (PF) de uma possível tentativa de fuga por parte de Cid — que, como réu no Supremo Tribunal Federal (STF), está sob uso de tornozeleira eletrônica. No entanto, a resposta da defesa foi imediata e contundente. “Ele não precisa justificar para ninguém os deslocamentos da esposa ou dos pais”, rebateu o advogado Cezar Bitencourt, que classificou a medida da PGR como “descabida” e “extrapolada”.
A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, mas teve sua execução rapidamente suspensa. Cid não chegou a ser preso, apenas prestou depoimento à PF no mesmo dia. Segundo sua defesa, a viagem teria como motivo uma celebração familiar nos EUA — o aniversário de uma sobrinha.
O episódio reacendeu discussões sobre os limites das investigações e o respeito às garantias constitucionais. A família de Mauro Cid tem laços antigos com os Estados Unidos: seu irmão mora na Califórnia, e sua filha reside no país há pelo menos três anos. O pai, por sua vez, foi nomeado para um cargo na Apex em Miami durante o governo Bolsonaro. Para a PGR, no entanto, esses vínculos reforçam o risco de fuga.
A suspeita teria se agravado após surgirem informações de que o ex-ministro Gilson Machado — preso na mesma operação em Recife — tentou obter um passaporte português para Cid. A defesa nega veementemente: “Ele jamais solicitou qualquer documento estrangeiro”, afirmou Bitencourt, reforçando que Cid está cumprindo rigorosamente o acordo de colaboração premiada homologado pelo STF.
A tentativa de prisão, considerada desproporcional por juristas, levantou críticas sobre uma possível atuação política da PGR em processos sensíveis. Para especialistas, o simples fato de familiares viajarem ao exterior não constitui, por si só, um indício concreto de fuga. “Estão querendo punir alguém por um evento privado, familiar”, afirmou um jurista ouvido pela imprensa.
Enquanto a PGR tenta justificar a operação como uma medida de precaução, a defesa acusa uma tentativa de intimidação. O caso escancara a tensão entre o combate a crimes e o respeito às liberdades civis, e pode impactar a confiança no instituto da colaboração premiada no Brasil.
A sociedade, polarizada, observa com atenção: há quem veja exagero e abuso judicial, e há quem defenda o rigor das investigações em nome da verdade. No fim, o que está em jogo é mais do que a liberdade de Mauro Cid — é a credibilidade do sistema de Justiça em um Brasil ainda marcado pela instabilidade institucional.
Comentários (0)