Governo Lula na berlinda: MST denuncia dados falsos sobre reforma agrária e cobra ação imediata
Segundo o MST, o governo Lula (PT) estaria contabilizando como "terras entregues" áreas que sequer possuem decisão judicial reconhecendo a desapropriação.

Lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) estão em rota de colisão com o ministro Paulo Teixeira, responsável pela pasta do Desenvolvimento Agrário. A acusação é grave: o ministro estaria divulgando dados inflados sobre a criação de novos assentamentos rurais, apresentando uma realidade fantasiosa que não corresponde às dificuldades enfrentadas pelas famílias acampadas.
Segundo o MST, o governo Lula (PT) estaria contabilizando como "terras entregues" áreas que sequer possuem decisão judicial reconhecendo a desapropriação. Para os sem-terra, os números são meramente publicitários — “peças de propaganda” — que não resultam em benefícios concretos para quem vive há anos em barracos e sem acesso a políticas públicas básicas.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário nega qualquer irregularidade e afirma que os dados são transparentes. Alega que considera como entregues os imóveis já analisados tecnicamente, com recursos reservados para o processo de desapropriação. Ainda assim, diante do que consideram omissão e ineficiência, os líderes do MST anunciaram o rompimento com Paulo Teixeira e passaram a exigir sua substituição imediata. O movimento também debate ampliar mobilizações para pressionar o governo.
O impasse ganhou um símbolo emblemático: o Acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais. Desde o fim dos anos 1990, cerca de duas mil famílias vivem no local. Em 7 de março deste ano, o presidente Lula visitou a área e assinou decretos de desapropriação, acenando com a promessa de resolver a questão agrária histórica.
Porém, passados mais de três meses, nada avançou. As famílias continuam impedidas de acessar crédito ou qualquer apoio à produção. O sentimento é de traição.
“O processo ficou parado depois daquela demonstração toda de compromisso do presidente. Não se moveu mais nenhum centímetro no sentido de garantir o direito das famílias”, afirmou Silvio Netto, da coordenação nacional do MST, à Folha de S.Paulo. “Se o presidente tivesse conhecimento dessa incompetência, o Paulo Teixeira já teria sido demitido.”
O MST afirma que o Ministério deveria ter protocolado imediatamente uma ação judicial solicitando a homologação da desapropriação dos três lotes da área. Isso não foi feito, mas, mesmo assim, o governo segue incluindo a região na lista de terras supostamente entregues, o que revolta ainda mais os acampados.
Em sua defesa, o governo diz que a Procuradoria do Incra está finalizando a ação e que o trâmite ainda respeita o prazo legal — que permite até dois anos desde o decreto para formalizar a desapropriação.
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