Gilmar finalmente reage no caso da investigação contra ele em Portugal
Caso ganhou repercussão internacional após declarações feitas pelo deputado português André Ventura, líder do Chega, partido conservador que atualmente figura como uma das principais forças políticas em Portugal.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes finalmente se manifestou publicamente sobre a investigação anunciada pelo partido político Chega, de Portugal, que pretende apurar sua suposta influência, patrimônio e rede de interesses no país europeu.
O caso ganhou repercussão internacional após declarações feitas pelo deputado português André Ventura, líder do Chega, partido conservador que atualmente figura como uma das principais forças políticas em Portugal. Ventura afirmou, por meio de uma publicação em sua conta na rede social X (antigo Twitter), que o partido recebeu “milhares de denúncias” e que, por isso, dará início a uma investigação independente sobre o ministro brasileiro. “Depois de milhares de denúncias recebidas, o CHEGA irá fazer uma investigação própria à influência, patrimônio e rede de interesses do ministro do STF Gilmar Mendes, em Portugal”, escreveu o parlamentar.
Ventura ainda acrescentou críticas ao governo brasileiro, afirmando que “o Governo Lula e os seus amigos tiveram e ainda têm em Portugal um lote grande de amigos que lhes apara os golpes, mesmo tendo em conta a ditadura em que o Brasil se está a tornar”. E concluiu: “Esse tempo, no que depender do CHEGA, vai acabar.”
“Recebo (a ameaça) com extremo bom humor. Passamos por vários momentos em 13 anos do fórum. Já disseram que era o ‘Fórum do impeachment da Dilma’, porque tinham pessoas simpatizantes do impeachment. Um professor fez uma manifestação lá na porta. Agora vem esse episódio”, declarou o ministro, referindo-se ao evento anual que promove em Lisboa e que ficou conhecido como “Gilmarpalooza”.
Gilmar também ironizou o envolvimento do parlamentar brasileiro Eduardo Bolsonaro, mencionando uma fala antiga do deputado sobre o fechamento do STF. “Segundo me informam, seria um apelo do Eduardo Bolsonaro, esse herói que está nos Estados Unidos e que dizia que, com um cabo e um soldado, ele iria fechar o Supremo”, declarou o ministro.
A fala faz referência a uma declaração polêmica de Eduardo Bolsonaro feita em 2018, quando o deputado disse que bastariam “um cabo e um soldado” para fechar o Supremo Tribunal Federal. A afirmação gerou grande repercussão na época, sendo amplamente condenada por autoridades e juristas.
O chamado “Gilmarpalooza” — evento anual que ocorre em Lisboa e que reúne ministros de tribunais superiores, parlamentares, empresários e acadêmicos do Brasil e de outros países — foi novamente o ponto central das críticas. Para o Chega, a reunião configura uma forma de articulação de poder e influência internacional por parte de autoridades brasileiras.
Entretanto, defensores do evento afirmam que se trata de um fórum legítimo para o debate jurídico e institucional entre Brasil e Europa, especialmente em temas como democracia, direitos fundamentais e integração internacional.
Até o momento, o governo português não se manifestou oficialmente sobre a investigação anunciada por Ventura, tampouco há informações sobre a existência de alguma apuração formal por parte das autoridades judiciais do país. A investigação, segundo o próprio deputado, será realizada de forma independente pelo partido Chega, o que levanta dúvidas sobre sua efetividade legal.
Juristas portugueses e brasileiros consultados por veículos de imprensa lembram que partidos políticos não têm prerrogativa legal para conduzir investigações formais com efeitos judiciais. No entanto, podem reunir documentos e informações para encaminhar a órgãos competentes, caso julguem haver elementos para apuração.
No Brasil, a repercussão da iniciativa dividiu opiniões. Setores da oposição ao governo Lula viram na proposta uma resposta à aproximação política entre autoridades brasileiras e portuguesas, enquanto aliados do ministro Gilmar Mendes classificaram o episódio como “teatro político” com fins eleitorais, tanto no Brasil quanto em Portugal.
A oposição mais crítica ao STF, por sua vez, voltou a levantar questionamentos sobre a conduta de ministros da Corte fora do país. Críticos argumentam que encontros como o fórum em Lisboa podem reforçar uma imagem de conivência entre poderes e interesses que, segundo eles, deveria ser melhor fiscalizada.
Já analistas internacionais destacam que a ação do partido Chega pode refletir uma tentativa de obter visibilidade e apoio junto ao eleitorado conservador português, especialmente por meio da associação com nomes e temas polêmicos da política brasileira.
Enquanto isso, Gilmar Mendes segue participando das atividades do evento em Lisboa e não indicou qualquer alteração na agenda. A expectativa é que o episódio permaneça sendo discutido nos meios políticos e jurídicos nos próximos dias, à medida que mais detalhes da suposta investigação do Chega forem divulgados.
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