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Cármen Lúcia chama brasileiros de “pequenos tiranos” ao justificar censura

A ministra já havia se apoiado nesse tipo de retórica quando defendeu a censura de um documentário às vésperas da eleição de 2022 — censura essa imposta pelo TSE, que adiou a exibição da obra para depois do pleito: “Não se pode permitir a volta de censura sob qualquer argumento no Brasil”, “MAS eu vejo isso como uma situação excepcionalíssima.”

Cármen Lúcia chama brasileiros de “pequenos tiranos” ao justificar censura
Cármen Lúcia chama brasileiros de “pequenos tiranos” ao justificar censura (Foto: Reprodução)

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, voltou a usar sua conhecida fórmula contraditória no plenário da Corte nesta quarta-feira, 25: diz-se contra a censura, enquanto vota por sua implementação.

“Censura é proibida constitucionalmente, é proibida eticamente, é proibida moralmente, é proibida eu diria até espiritualmente. MAS não [se] pode, também, permitir que nós estejamos numa ágora [praça pública] em que haja 213 milhões de pequenos tiranos soberanos. Soberano é o Brasil, soberano é o Direito brasileiro.”

A ministra já havia se apoiado nesse tipo de retórica quando defendeu a censura de um documentário às vésperas da eleição de 2022 — censura essa imposta pelo TSE, que adiou a exibição da obra para depois do pleito:

“Não se pode permitir a volta de censura sob qualquer argumento no Brasil”, “MAS eu vejo isso como uma situação excepcionalíssima.”


Desta vez, Cármen foi além ao classificar toda a população brasileira – segundo estimativas do IBGE, cerca de 213 milhões de pessoas – como “pequenos tiranos soberanos” que devem ser contidos por uma elite jurídica. A dúvida que paira: será que os próprios ministros do STF estão incluídos nessa categoria, ou seriam os “grandes tiranos” incumbidos de definir quando e como calar os demais, sempre em nome de uma vaga “soberania do Direito”?


Ela afirmou que “cada cidadão tem o direito de criticar”, de “vaiar” e “xingar”, mas não “o direito de cercear e levar à morte das pessoas, das instituições e da democracia” – uma justificativa ambígua e subjetiva, especialmente diante de julgamentos sobre remoções de conteúdos virtuais sem necessidade de ordem judicial.

Em um esforço retórico peculiar, a ministra tentou ilustrar: “Pode gritar ‘odeio a ministra Cármen Lúcia’; o que não pode é pegar um revólver e me matar na rua, isso não pode.” Contudo, o julgamento trata de outra coisa: não assassinatos reais, mas se big techs podem ser responsabilizadas por manter publicações no ar simplesmente porque alguém – militante, político ou usuário – pediu sua retirada, mesmo sem ordem judicial.


O temor legítimo de que postagens violentas possam inspirar crimes reais é manipulado como justificativa para delegar às plataformas digitais o papel de censores oficiais, em vez de fortalecer os meios legais já disponíveis para lidar com abusos.


O ministro Edson Fachin, que divergiu do voto da relatora, relembrou o passado sombrio da ditadura ao criticar qualquer retorno à “moderação” de conteúdos:

“Corremos o risco de ver temerárias ações de investigações atingirem jornalistas e professores”, advertiu, mencionando ainda os danos à “pluralidade democrática na rede”.


Ele reafirmou a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet – que protege a liberdade de expressão ao exigir ordem judicial para remoção de conteúdo gerado por terceiros – e reforçou que a regulação das redes deve ser feita preferencialmente pelo Legislativo:

“Os remédios para os males da democracia precisam ser encontrados dentro da caixa de ferramentas da própria democracia.”


Enquanto alguns ministros recorrem a malabarismos retóricos e ofensas veladas para justificar limitações às liberdades individuais, Fachin optou por um voto ancorado na Constituição, no bom senso e no verdadeiro espírito democrático.


A velha tática dos tiranos permanece: acusar o povo de tirania para justificar o seu próprio autoritarismo.


*Com informações de O Antagonista.

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