Crise no Planalto: Lula acuado após queda do IOF e ameaça ofensiva judicial
Para os petistas, a movimentação não foi acidental. Trata-se de uma ofensiva calculada para “sufocar o governo” e minar o caminho de Lula rumo à reeleição.

Nos bastidores do poder em Brasília, a cúpula petista está em estado de alerta após a derrubada do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), um duro golpe para os planos econômicos do governo Lula. Segundo dirigentes do PT, a articulação que enterrou a medida foi liderada pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), numa clara demonstração de força contra o Planalto.
Para os petistas, a movimentação não foi acidental. Trata-se de uma ofensiva calculada para “sufocar o governo” e minar o caminho de Lula rumo à reeleição. A legenda já admite que não há retorno e aposta na judicialização como saída — e promete, nos bastidores, reagir com força junto à opinião pública.
A insatisfação do PT se intensificou após o Congresso, sem explicação formal, barrar uma medida que, segundo o governo, garantiria recursos a programas sociais. “É uma ofensiva”, afirmou um integrante da sigla. Internamente, circula a versão de que Alcolumbre teria manobrado para pressionar Lula a demitir o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, numa queda de braço por cargos em agências reguladoras.
Conforme revelou o site Metrópoles, na véspera da votação, Motta conversou com um interlocutor direto de Lula. Listou suas queixas — especialmente contra a campanha do governo para jogar no colo do Congresso a culpa por eventuais aumentos na conta de luz, após a derrubada de vetos que beneficiavam o consumidor. Mesmo assim, Motta não teria informado sobre a pauta do IOF, o que acendeu o alerta máximo no Planalto.
O tom subiu entre os aliados do presidente. “Sem explicações claras, só resta ao governo preparar-se para o confronto”, afirmou um interlocutor próximo a Lula. O presidente, segundo fontes internas, reagiu com irritação. “Nem nos piores embates com Arthur Lira houve quebra de acordos ou derrotas surpresas como essa”, disse um articulador.
A ordem agora no Planalto é não sentar à mesa de negociações com Motta e Alcolumbre até que “a correlação de forças seja restabelecida”. Segundo um estrategista do PT: “Não se negocia em posição de desvantagem”.
Em resposta, o partido pretende intensificar nas redes sociais e no Congresso o debate sobre temas que considera populares, e que constam em medida provisória enviada para compensar o revés no IOF. Entre eles: taxar grandes fortunas, aumentar os tributos sobre casas de apostas e denunciar o custo da energia que, segundo o PT, é “bancado pelo Centrão”.
O governo insiste que o reajuste do IOF é prerrogativa exclusiva do Executivo. Para os petistas, permitir que o Congresso derrube essa medida via Projeto de Decreto Legislativo (PDL) é abrir espaço para que o Parlamento passe a governar no lugar do Planalto.
Do outro lado, líderes do Congresso — especialmente de partidos com ministérios — afirmam que a relação com o governo chegou ao limite. Avaliam que Motta se precipitou ao pautar a derrubada do imposto sem sequer comunicar o Planalto, expondo o Executivo a uma das maiores derrotas políticas dos últimos anos.
O gesto não passou despercebido: a última vez que um decreto presidencial foi completamente derrubado pelo Congresso foi há 37 anos, ainda sob Fernando Collor. Apesar de reconhecerem que a interlocução pode ser retomada, parlamentares admitem que o rompimento de acordos causou feridas profundas. O temor maior agora é o envolvimento do Supremo Tribunal Federal (STF), o que remete ao recente trauma vivido pelo Congresso, quando emendas parlamentares foram travadas por decisões da Corte.
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