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Estadão chama decisão de Moraes sobre Bolsonaro de “aberração”

A publicação lembra que a primeira decisão de Moraes sobre as medidas cautelares já era marcada por incertezas. Agora, com a nova determinação, a situação só piora: o ministro, além de não esclarecer os limites das proibições, redige um texto que mais confunde do que orienta.

Estadão chama decisão de Moraes sobre Bolsonaro de “aberração”
Estadão chama decisão de Moraes sobre Bolsonaro de “aberração” (Foto: Reprodução)

O jornal O Estado de S. Paulo não poupou críticas à mais recente decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), classificando-a como “kafkaniana”, “atabalhoada” e “confusa”. A polêmica envolve a negativa de prisão ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ao mesmo tempo em que Moraes impõe restrições que, segundo o jornal, carecem de clareza e objetividade.

A publicação lembra que a primeira decisão de Moraes sobre as medidas cautelares já era marcada por incertezas. Agora, com a nova determinação, a situação só piora: o ministro, além de não esclarecer os limites das proibições, redige um texto que mais confunde do que orienta.


– “Moraes foi vago e confuso, o que decerto levou Bolsonaro a se sentir autorizado a conceder entrevista após um ato político havido na Câmara, no dia 21 passado, ocasião em que se deixou filmar e fotografar usando tornozeleira eletrônica – registros que, por óbvio, foram parar nas redes sociais” – avaliou o editorial do Estadão sobre a primeira decisão.


O jornal ainda destacou que a defesa de Bolsonaro agiu com responsabilidade ao buscar esclarecimentos formais e solicitar que Moraes definisse com precisão o alcance da censura imposta. A resposta do ministro, segundo o editorial, foi ainda pior:

– “Em sua resposta, divulgada anteontem, Moraes conseguiu a proeza de soar ainda mais atabalhoado e, desse modo, aumentar a insegurança jurídica que deveria ter sanado. Se a decisão original que impôs as restrições a Bolsonaro já não era um primor de redação, em que pese ter sido correta no mérito, a nova decisão do ministro é uma aberração na forma e no conteúdo” – disparou o jornal.

Ao dizer que a medida é “kafkaniana”, o veículo faz referência ao clima de opressão e absurdo das obras de Franz Kafka, em que personagens são esmagados por sistemas judiciais labirínticos e sem lógica – um retrato assustador, mas infelizmente atual no Brasil de Moraes.

Mesmo dizendo que nunca proibiu Bolsonaro de conceder entrevistas ou falar em público, Moraes introduziu uma regra enigmática: não se pode usar esses discursos como “material pré-fabricado” para redes sociais de terceiros. Na prática, uma desculpa rebuscada para impor censura e tentar controlar o discurso do principal nome da direita brasileira.

– “O que isso significa, só o próprio ministro é capaz de dizer. Ao que parece, essa foi a fórmula mágica que Moraes encontrou para garantir formalmente a Bolsonaro seu direito de se expressar e, à imprensa profissional, seu dever de informar a sociedade, enquanto, na prática, censura previamente a palavra do ex-presidente por meio de uma decisão tão obscura que os padrões de obediência decerto só existem na sua cabeça, e não na letra da lei” – ironiza o editorial.

Para o Estadão, a decisão serve como uma ferramenta de opressão política, tentando manter o líder conservador sob vigilância total e permanente.

– “Com a espada da ameaça de prisão preventiva sobre sua cabeça, Bolsonaro decerto não emitirá palavra. E jornalistas deixarão de obter informações de interesse público. A lei será o que Sua Excelência achar que é. Evidentemente, não é assim que se exerce a judicatura num Estado Democrático de Direito digno do nome” – criticou duramente o veículo.


No encerramento, o editorial denuncia o caráter autoritário do ato jurídico: uma decisão tão mal formulada, que precisa ser explicada inúmeras vezes pelo próprio autor, revela não apenas falta de técnica, mas sobretudo ausência de equilíbrio e responsabilidade.

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