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Marco Aurélio reage a gesto obsceno de Moraes e sanções dos EUA: “Pensei que fosse montagem”

O gesto em questão, um dedo médio erguido em resposta a vaias recebidas durante um jogo em São Paulo, ocorreu no mesmo dia em que o Tesouro dos Estados Unidos anunciou a inclusão de Moraes na lista de sanções da Lei Magnitsky, o que implica, entre outros efeitos, no bloqueio de bens em solo norte-americano.

Marco Aurélio reage a gesto obsceno de Moraes e sanções dos EUA: “Pensei que fosse montagem”
Marco Aurélio reage a gesto obsceno de Moraes e sanções dos EUA: “Pensei que fosse montagem” (Foto: Reprodução)

Ex-ministro do STF se diz surpreso com atitude de Moraes e critica o momento político e jurídico do Brasil

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, que integrou a Corte entre 1990 e 2021, comentou nesta quinta-feira, 31, a recente polêmica envolvendo o ministro Alexandre de Moraes. Em entrevista ao jornalista Claudio Dantas, Marco Aurélio abordou tanto o gesto obsceno feito por Moraes em um estádio de futebol quanto as sanções impostas a ele pelos Estados Unidos.

Segundo Marco Aurélio, sua reação inicial ao ver o vídeo foi de incredulidade:

“Quando vi essa imagem, pensei que fosse montagem, que fosse fake news”, confessou. “Não acreditei que ele pudesse realmente praticar esse ato que sabemos que é obsceno.”

O gesto em questão, um dedo médio erguido em resposta a vaias recebidas durante um jogo em São Paulo, ocorreu no mesmo dia em que o Tesouro dos Estados Unidos anunciou a inclusão de Moraes na lista de sanções da Lei Magnitsky, o que implica, entre outros efeitos, no bloqueio de bens em solo norte-americano.

Sanções dos EUA geram perplexidade

Sobre a sanção, Marco Aurélio demonstrou surpresa com a medida inédita:

“Não poderíamos jamais imaginar que um integrante da mais alta corte brasileira fosse alvo de retaliações por um país que temos como um país irmão”, disse.

O ex-ministro apontou que o episódio reflete um momento delicado do país:

“Qual é o período que nós estamos vivendo no país? Precisaremos fechar o país para ter uma correção de rumos?”

Ele ainda ressaltou a dificuldade de convivência dos ministros com o público:

“Hoje, os integrantes do Supremo […] só conseguem sair a público acompanhados de um contingente de seguranças. Alguma coisa está errada.”

Críticas à atuação ampliada do STF

Marco Aurélio também fez críticas às atribuições ampliadas do Supremo, especialmente no caso dos atos de 8 de janeiro:

“O Supremo não é competente, por exemplo, para julgar os arruaceiros de 8 de janeiro, os cidadãos comuns.”

Para ele, essa postura fere princípios fundamentais:

“Esse tipo de atuação prejudica o cidadão ao negar o ‘juiz natural’ e o ‘direito a um recurso de revisão’, o que considero um ‘retrocesso cultural’.”

Possíveis mudanças no STF após as sanções

Indagado sobre as consequências das sanções, Marco Aurélio defendeu a necessidade de evolução institucional:

“A hora é de reflexão e a hora é de evoluir-se. Colegiado é o somatório de formações distintas […] Não há espaço para espírito de corpo.”

Críticas a Eduardo Bolsonaro e alerta sobre clima político

Sobre a atuação internacional do deputado federal Eduardo Bolsonaro, Marco Aurélio foi direto:

“A roupa suja deve ser lavada em casa.”

Embora não apoie a postura do parlamentar, ele sugeriu uma possível motivação:

“Eduardo acabou indo para o exterior, talvez receando a glosa no território brasileiro.”

No contexto jurídico, “glosa” se refere à anulação de um direito ou benefício. O ex-ministro sugeriu, portanto, que o deputado poderia temer algum tipo de retaliação institucional.

Marco Aurélio reconheceu o clima de anormalidade vigente:

“Estamos vivendo, como costumo ressaltar, tempos estranhos.”

E destacou a relevância do voto:

“Agora teremos eleições no próximo ano, em 2026, e aguardemos que os eleitores, que são os grandes julgadores, se pronunciem.”

Impactos econômicos das decisões do STF também foram alvo

A entrevista ainda abordou os efeitos das decisões judiciais sobre a economia. Marco Aurélio defendeu a estabilidade e segurança jurídica, e criticou específica decisão:

“É preocupante a decisão que bloqueou recursos da empresa Starlink, que conta com o empresário Elon Musk em seu quadro societário.”

Supremo como instituição deve manter foco na função constitucional

Encerrando a entrevista, Marco Aurélio reafirmou a importância da Corte, mas alertou:

“É incompreensível que se busque simplesmente um protagonismo maior.”

E concluiu com um apelo à função essencial do Judiciário:

“O que precisamos é perceber o que se aguarda do Judiciário e proceder à entrega da prestação jurisdicional da forma mais clara possível, da forma mais afinada possível com a ordem jurídica.”

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