Governo teme que processo contra Bolsonaro provoque reação internacional e novas punições
Nos bastidores, ministros avaliam que Washington pode se aproveitar desse processo para aumentar a pressão sobre o governo petista e sobre o Supremo, já desgastados com a narrativa de que Bolsonaro estaria sendo alvo de perseguição judicial para favorecer Lula.

Integrantes do governo Lula (PT) e do STF admitem que existe a possibilidade real de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ampliar sanções econômicas contra o Brasil e impor novas restrições a autoridades do país, em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), previsto para setembro.
Nos bastidores, ministros avaliam que Washington pode se aproveitar desse processo para aumentar a pressão sobre o governo petista e sobre o Supremo, já desgastados com a narrativa de que Bolsonaro estaria sendo alvo de perseguição judicial para favorecer Lula.
Embora garantam que o STF “não vai se curvar a pressões externas”, membros da Corte reconhecem que a condenação de Bolsonaro poderia aumentar a tensão em um cenário já conflituoso. Trump, que já aplicou sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros e determinou sanções contra Alexandre de Moraes, tem sustentado que o ex-presidente é vítima de arbitrariedades.
Entre ministros, há quem tema que novas medidas atinjam outros integrantes do Supremo e até familiares, como forma de intimidação. Alguns ainda apostam que Trump pode, eventualmente, rever a sobretaxa aos produtos brasileiros, mas essa possibilidade é vista como improvável.
O temor aumentou após o vazamento de diálogos em que Bolsonaro e aliados discutem cooperação com Washington para garantir anistia, mesmo sob risco de represálias econômicas. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chegou a admitir receio de que Trump recue em algum momento.
Apesar disso, no governo Lula prevalece a leitura de que o presidente americano não mudará sua postura. Dois ministros próximos a Lula tentaram minimizar os efeitos das punições contra Moraes, lembrando que poucos magistrados possuem patrimônio em solo americano. Ainda assim, há movimentação com banqueiros e políticos para avaliar o impacto da Lei Magnitsky, usada para sancionar Moraes por suposta violação de direitos humanos.
Outra fonte de preocupação é a decisão do ministro Flávio Dino (STF), que estabeleceu que ordens judiciais e executivas de governos estrangeiros só têm validade no Brasil se forem confirmadas pela Corte. A determinação, que surgiu no caso da barragem de Mariana (MG), foi interpretada como uma tentativa de blindar magistrados contra as sanções aplicadas por Trump.
O efeito foi imediato: dólar em alta, queda brusca na bolsa e ações de bancos despencando. Integrantes do governo admitem preocupação com fuga de investidores americanos e instabilidade no mercado financeiro.
Gleisi Hoffmann, ministra da Secretaria de Relações Institucionais, culpou Bolsonaro pela escalada de tensões:
“A especulação com o valor das ações dos bancos é mais uma parcela do Custo Bolsonaro, que recai sobre o país desde que ele se aliou a Trump para fugir do julgamento por seus crimes.”
Ela ainda acusou o presidente americano de “agredir o sistema financeiro brasileiro, provocado por Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo”. Para Gleisi, Dino agiu em legítima defesa da soberania nacional.
Moraes, já sancionado em julho, teve cartão internacional bloqueado no Brasil por determinação de bancos após a ordem americana. A extensão dessas medidas a outros ministros do Supremo e até a seus familiares tem gerado forte apreensão dentro da Corte e no Planalto.
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