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Estranhamente, Haddad desiste de ir à ONU com Lula

Em vez de ocupar a plateia internacional, Haddad ficará em Brasília, onde enfrenta uma agenda considerada decisiva para o futuro das contas públicas.

Estranhamente, Haddad desiste de ir à ONU com Lula
Estranhamente, Haddad desiste de ir à ONU com Lula (Foto: Reprodução)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, decidiu não acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na viagem a Nova York para a Assembleia Geral da ONU neste fim de semana. A informação foi confirmada pela Folha de S. Paulo.

Em vez de ocupar a plateia internacional, Haddad ficará em Brasília, onde enfrenta uma agenda considerada decisiva para o futuro das contas públicas. No centro das atenções está o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil mensais — promessa política de forte apelo popular. O texto, relatado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deve ser apresentado aos líderes na próxima terça-feira (23).

Embora aprovado em comissão especial em julho, o avanço do projeto esbarrou em um obstáculo de peso: como compensar um custo fiscal estimado em R$ 25 bilhões por ano. Para comparação, esse valor supera o orçamento anual de diversos ministérios.

Outro ponto quente é a medida provisória publicada em junho que aumenta tributos sobre setores específicos. Embora já esteja em vigor, a MP precisa ser chancelada pelo Congresso para não perder efeito. O governo aposta nela para reforçar o caixa: a expectativa é arrecadar R$ 10,5 bilhões em 2025 e outros R$ 20,9 bilhões em 2026.


“Risco fiscal no radar”

A decisão de Haddad de permanecer em Brasília mostra o tamanho da preocupação do Planalto. O cenário político ficou mais instável após a saída do União Brasil da base governista, o que enfraqueceu ainda mais a articulação de Lula no Congresso. Medidas que exigem maioria ampla, como as mudanças no IR e a MP tributária, podem emperrar.

Caso isso aconteça, o governo enfrentará a ameaça de um rombo extra nas contas públicas, colocando em dúvida a trajetória da dívida brasileira. E não é um detalhe técnico: historicamente, sempre que o mercado percebe risco fiscal elevado, os juros futuros sobem, a moeda se desvaloriza e a confiança internacional no país diminui. Esse movimento já ocorreu em crises passadas, como em 1999 e 2015, quando desequilíbrios nas contas públicas abalaram a economia.

Assim, enquanto Lula discursará na ONU, Haddad trava em Brasília uma batalha menos vistosa, mas talvez ainda mais decisiva para o país: evitar que a credibilidade fiscal brasileira desmorone.

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