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‘Não vou me calar’: Carla Zambelli denuncia censura e perseguição de Moraes

Zambelli contou que a perseguição começou quando Moraes determinou medidas que considerou abusivas: “Eles mandaram eu pedir desculpa no Facebook. Essa minha entrevista foi deletada do [programa] Pânico, esse vídeo em que eu falo que ele [Moraes] foi advogado das vans do PCC.”

‘Não vou me calar’: Carla Zambelli denuncia censura e perseguição de Moraes
‘Não vou me calar’: Carla Zambelli denuncia censura e perseguição de Moraes (Foto: Reprodução)

Presa em Roma, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) falou nesta quarta-feira (24) à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, onde responde a um processo que pode cassar seu mandato. Em tom firme, ela acusou o ministro do STF, Alexandre de Moraes, de perseguição e disparou: “Ali eu percebi que estava lidando com uma pessoa que era um bandido.”

Zambelli contou que a perseguição começou quando Moraes determinou medidas que considerou abusivas: “Eles mandaram eu pedir desculpa no Facebook. Essa minha entrevista foi deletada do [programa] Pânico, esse vídeo em que eu falo que ele [Moraes] foi advogado das vans do PCC.” Vale lembrar que Moraes, de fato, atuou como advogado de uma cooperativa de vans de São Paulo, mais tarde investigada por suposta ligação com o PCC — detalhe que poucos sabem e que hoje gera polêmica.

Vestindo um moletom cinza e falando por videoconferência, Zambelli afirmou: “Em pouco tempo, eu não estarei mais dentro de um presídio, porque o processo foi todo injusto.” E acrescentou: “Essa prisão aconteceu para que eu pudesse expor à Itália a minha confiança na Justiça daqui, enquanto eu não conseguisse me explicar do que está acontecendo no Brasil.”

Condenada pelo STF em maio à perda de mandato e a dez anos de prisão por suposta invasão ao sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em parceria com o hacker Walter Delgatti Neto, Zambelli rejeitou a acusação. Ela disse que nunca redigiu a ordem de prisão falsa contra Moraes e que só soube da invasão depois. “Ele [Delgatti] deve ter me mandado depois de ter feito. Acho que ele me mandou porque eu tinha interesse em segurança virtual. Até fiquei com um pouco de medo, porque esse tipo de situação poderia me lesar de alguma maneira e ali eu dei uma distanciada dele.”

Segundo a deputada, sua aproximação com Delgatti tinha como meta investigar se seria possível fraudar as urnas eletrônicas — pauta pela qual ela luta há anos, defendendo o voto impresso auditável, algo que boa parte do povo brasileiro ainda exige.


Zambelli relatou também o impacto pessoal da perseguição: bloqueio do salário, vaquinha suspensa, contas do marido congeladas e até as redes sociais do filho derrubadas. “Ele quis atingir toda a minha família.”

Questionada sobre arrependimentos, admitiu pesar pelo episódio em que perseguiu um homem com arma em punho em 2022, embora discorde da ideia de que isso tenha influenciado na derrota de Jair Bolsonaro, como alguns afirmam.

Na sessão, a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) criticou a decisão de ouvir Zambelli da prisão italiana, chamando-a de “foragida e bandida”. Já o presidente da CCJ, Paulo Azi (União Brasil-BA), lembrou o princípio democrático da ampla defesa.

Antes de Zambelli, foram ouvidas três testemunhas de defesa: o próprio Delgatti, o perito Michel Spiero e o ex-assessor de Moraes, Eduardo Tagliaferro. Nem todos os nomes sugeridos pela parlamentar aceitaram falar.

A PGR a acusa de planejar com Delgatti a invasão ao sistema do CNJ para emitir alvarás falsos e gerar caos no Judiciário. A decisão sobre sua cassação será do plenário da Câmara, que precisa de 257 votos. O relator, deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), deve apresentar parecer em até cinco sessões.


Zambelli fugiu do Brasil passando por Argentina e Estados Unidos até ser presa em julho, na Itália, onde aguarda decisão sobre extradição. Seu caso divide até a própria bancada do PL — alguns acreditam que ela pode ser salva no plenário, outros veem sua situação como irreversível.

Curiosidade: na história política brasileira, raríssimos parlamentares foram cassados em julgamento polêmico fora do país. O caso de Zambelli pode se tornar um marco, já que até mesmo na época da ditadura militar, muitos opositores foram caçados, mas quase nenhum enfrentou esse cenário internacional de prisão e extradição.

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