Lula precisa deixar o STF de lado se quiser ter sucesso com Trump
Não há garantia nenhuma de que Lula terá uma conversa frutífera com o presidente americano, obviamente.
															Como é natural, há muitas especulações na imprensa a respeito do aceno surpreendente de Donald Trump a Lula, ontem, durante o seu discurso (muito louco) na Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Uma das especulações, que está mais para em se plantando tudo dá, foi a de que duas empresas nacionais com grandes interesses nos Estados Unidos, uma de carnes, a outra de aviação, ajudaram a amolecer o presidente americano em relação ao Brasil, graças ao seu lobby em Washington.
Não há dúvida de que a iniciativa privada anda fazendo muito, mas muito mais do que a diplomacia brasileira no caso das sanções americanas. Dominado pelo petismo, o Itamaraty vive um dos momentos mais baixos e paralisantes da sua história.
Sem desmerecer a importância do lobby empresarial, o mais provável, contudo, é que a fala de Donald Trump sobre a “química excelente” com Lula e a abertura para uma conversa nos próximos dias se deva mais ao fato de ele ter topado com o presidente brasileiro pouco antes do início da Assembleia-Geral e assistido ao discurso de Lula na sequência. O presidente americano simplesmente se lembrou do Brasil e resolveu dar uma piscadela, até por ter ido com a cara de Lula, por que não? Assim como em qualquer aspecto da vida humana, as relações internacionais se fundam também sobre simpatias pessoais instantâneas, acaso, improviso, atitudes de última hora.
A probabilidade de haver surpresas aumenta exponencialmente, é claro, quando se tem um personagem como Donald Trump. Ele é errático, volúvel, intuitivo — e maluco, mas com método e sem propensão para rasgar dinheiro.
Não há garantia nenhuma de que Lula terá uma conversa frutífera com o presidente americano, obviamente. Mas a chance de ela ser infrutífera diminui bastante se o presidente brasileiro tiver algo a oferecer de concreto em termos econômicos — fala-se de acesso americano a jazidas de minerais estratégicos e de uma regulação menos draconiana das big techs. Outro ponto essencial para que se possa chegar a bom termo é contornar a questão política. Dificilmente, Donald Trump abandonará as sanções a ministros do STF e demais personagens periféricos que considera participantes da perseguição a Jair Bolsonaro. No máximo, poderá fazer vista grossa para uma aplicação menos rigorosa da Lei Magnitsky aos que foram alcançados por ela.
Reafirme-se que esse é um problema do Poder Judiciário, não do Brasil, e que o interesse nacional é o de manter a saúde das empresas exportadoras, geradoras de divisas e de milhares de empregos.
Ele precisa prevalecer tanto sobre o discurso eleitoreiro em defesa da soberania, como sobre as pressões dos ministros do Supremo para que o presidente brasileiro continue a comprar uma briga que é só deles, a despeito de toda a narrativa de defesa da democracia.
Se quiser ter sucesso com Donald Trump, Lula precisa deixar o STF de lado.
Fonte: Mario Sabino
        
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