Lula entrega cargo estratégico a Guilherme Boulos e reforça ala radical da esquerda no Planalto

O objetivo é repetir a disputa municipal e tentar melhorar o desempenho das eleições anteriores.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oficializou nesta segunda-feira (20) a nomeação do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) para comandar a Secretaria-Geral da Presidência da República. O nome do líder do PSOL substitui Márcio Macedo, que deverá ser deslocado para outro cargo dentro do governo.

A escolha de Lula escancara a tentativa do petista de reaproximar o Palácio do Planalto dos movimentos radicais de esquerda, como o MST e o MTST, ambos símbolos da militância que atua na base do governo. Boulos, inclusive, é fundador e ex-coordenador nacional do MTST. A nomeação é vista como uma estratégia para fortalecer a imagem de Lula junto à ala mais ideológica da esquerda, mesmo sob forte resistência de parte do próprio PT.

O nome de Boulos ganhou força após a organização de atos contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia, que reuniram cerca de 42 mil pessoas na Avenida Paulista. Segundo fontes do Planalto, o movimento agradou Lula, que passou a enxergar o psolista como um “queridinho” político e um importante aliado para manter viva a militância nas ruas.

A entrada de Boulos no governo também tem um cálculo eleitoral. O deputado deve abrir mão da reeleição para a Câmara para assumir o cargo de ministro, e já mira a prefeitura de São Paulo em 2028. O objetivo é repetir a disputa municipal e tentar melhorar o desempenho das eleições anteriores. Há, contudo, quem acredite que Lula possa apoiar uma eventual candidatura de Boulos ao Senado, dependendo das movimentações de Geraldo Alckmin e Márcio França (ambos do PSB).

Enquanto isso, Márcio Macedo, agora fora do ministério, deve ser remanejado para outra função no governo, ainda indefinida, e deve concentrar esforços em sua campanha para deputado federal, com apoio do senador Rogério Carvalho (PT-SE).

Quem é Guilherme Boulos

Aos 43 anos, Boulos é deputado federal e uma das figuras mais influentes da esquerda radical no Brasil. Formado em filosofia e mestre em psiquiatria pela USP, ele ganhou projeção nacional como líder do MTST, movimento conhecido por invasões de propriedades privadas e pressão por políticas habitacionais.

Em 2018, Boulos tentou a Presidência da República pelo PSOL, mas obteve apenas 617 mil votos, terminando em 10º lugar. Em 2020, disputou a prefeitura de São Paulo e chegou ao segundo turno contra Bruno Covas (PSDB), mas foi derrotado. Em 2022, foi eleito deputado federal com mais de 1 milhão de votos, sendo um dos mais votados do estado. Voltou a disputar a prefeitura em 2024, perdendo para Ricardo Nunes (MDB).

Agora, com o aval de Lula, Boulos entra oficialmente no núcleo do poder petista, reforçando a presença da extrema esquerda no governo — algo que tende a acirrar ainda mais o clima político entre o Planalto e a oposição.