INSS na mira da PF: apuração envolve quase R$ 90 bilhões em empréstimos suspeitos
A apuração revela a extensão de práticas ilegais que vão desde descontos indevidos até falsificação de contratos, apontando para um problema sistêmico no modelo de crédito voltado ao público mais vulnerável da seguridade social.

A Polícia Federal avançou em uma nova etapa da investigação que apura fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Desta vez, o foco está na concessão irregular de empréstimos consignados a aposentados e pensionistas, em um esquema que pode envolver cerca de R$ 90 bilhões. A apuração revela a extensão de práticas ilegais que vão desde descontos indevidos até falsificação de contratos, apontando para um problema sistêmico no modelo de crédito voltado ao público mais vulnerável da seguridade social.
A operação é conduzida em conjunto com o Ministério da Previdência Social e a Controladoria-Geral da União (CGU), e já identificou milhares de casos suspeitos de empréstimos realizados sem o consentimento dos beneficiários. Muitos segurados descobriram que estavam endividados apenas ao perceberem valores descontados diretamente de seus benefícios mensais, o que gerou uma onda de reclamações e denúncias em todo o país.
As investigações preliminares apontam para o possível envolvimento de bancos, correspondentes bancários e até servidores públicos. Entre os principais indícios estão a manipulação de dados pessoais de segurados, a falsificação de autorizações para contratação dos créditos e a inclusão de aposentados em contratos que nunca foram firmados por eles.
De acordo com fontes ligadas ao caso, parte dos dados vazados pode ter sido utilizada para alimentar sistemas de concessão de crédito automatizados, facilitando a liberação irregular dos empréstimos. Em outros casos, correspondentes bancários teriam induzido beneficiários a assinar documentos sem a devida compreensão das cláusulas, aproveitando-se da falta de informação e da vulnerabilidade de muitos idosos.
Em nota oficial, o Ministério da Previdência afirmou que está colaborando ativamente com a PF e já iniciou uma revisão de contratos firmados com instituições financeiras, além de suspender temporariamente novos convênios com entidades suspeitas de participação nas fraudes. O governo também avalia mudanças nas normas que regem o crédito consignado, incluindo a criação de mecanismos de autenticação mais seguros e restrições à atuação de intermediários.
Além da responsabilização criminal dos envolvidos, as autoridades trabalham para fortalecer o controle interno do INSS e evitar que episódios semelhantes se repitam. Uma das propostas em estudo prevê a criação de uma plataforma digital única e transparente, na qual o beneficiário possa acompanhar, autorizar ou contestar empréstimos com mais facilidade.
Especialistas em direito previdenciário alertam que o caso escancara uma vulnerabilidade estrutural do sistema. “O crédito consignado é uma importante ferramenta de acesso ao consumo para aposentados, mas tem sido explorado de forma predatória. Sem fiscalização adequada, ele se transforma em armadilha”, afirma a advogada Camila Mota, especialista em direitos dos idosos.
A investigação segue em curso, e novas fases da operação não estão descartadas. A expectativa é de que, ao final do inquérito, a Polícia Federal encaminhe denúncias formais contra agentes públicos e privados envolvidos no suposto esquema, que já é considerado um dos maiores escândalos recentes no âmbito da Previdência Social brasileira.
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